Moeda ou Medalha? Ariel Mattoso Sabala - MNI-01

     Segundo Charles-François Lenormant (1837 – 1883), um estudioso numismático francês:


     "Moedas, são peças de metal que, multiplicadas uniformemente em grande número, com um valor preciso, real ou fictício, com determinados tipos, pêso e título, servem de meio universal de troca em relação a todos os outros valores.

     Medalhas, são peças de metal que multiplicadas uniformemente sem ter valor preciso, e sem reunir os caracteres conhecidos e determinados pelo título, pêso e tipos, são destinadas a um fim comemorativo, religioso, artístico e premial". (In Noções de Numismática (VIII). Revista de História, [S. l.], v. 15, n. 32, p. 492, 1957.). 


     Ambas podem ter as mesmas especificações técnicas (como peso, diâmetro e material), e inclusive a mesma nomenclatura para seus componentes (anverso1, ou obverso, reverso2, bordo, ou borda3, campo4, exergo5 e orla6). Mas, moedas e medalhas se diferenciam, basicamente, por seu poder de compra, característica essa que apenas as moedas possuem, enquanto que medalhas são meramente destinadas a fins comemorativos ou premiais.

     A moeda, relativamente parecida com o que temos nos dias de hoje, criada com um objetivo bem definido, composta de valor intrínseco por seu material, com poder de compra e com a cunhagem apoiada por um Estado, surgiu no reino da Lídia (na região da Anatólia, onde hoje se localiza a República da Turquia) no século VII a. C. Era chamada de “stater”, ou estater (Figura 1), de formato irregular, mas arredondada, sendo composta de eletro (ou electrum), uma liga natural de ouro e prata encontrada em estado bruto no monte Tmolo. Rapidamente seu uso espalhou-se pelas cidades localizadas nas margens do Mar Mediterrâneo.


Figura 1 – Moeda da Lídia (anverso e reverso).
Fonte: Jafet Numismática


     Sobre o surgimento da medalha, Álvaro da Veiga Coimbra (1961) afirma:


     “A palavra medalha deriva do italiano medaglia que durante a      Idade Média era sinônimo de óbulo ou de meio-dinheiro.       Depois que as medalhas italianas foram desmonetizadas, o seu      nome passou a ser aplicado a peças antigas e sem valor       monetário. Mais tarde, por uma extensão natural, usou-se da      mesma designação para tôdas as espécies de velhas peças e      particularmente para aquelas que restavam da Antigüidade.”      (In Noções de Numismática Medalhística (III). Revista de       História, [S. l.], v. 22, n. 45, p. 247, 1961.)


     O que é considerada a primeira medalha surge no século XV, na Itália, pelas mãos de um pintor: Pisanello (Pisa ou Verona, antes de 1395 - Nápoles, por volta de 1455) — pseudônimo de Antonio di Puccio Pisano. Retratava João VII Paleólogo, penúltimo imperador bizantino, atendendo ao Concílio de Ferrara; essa medalha foi fundida entre fevereiro de 1438 e outubro de 1439 (Figura 2), sendo cunhadas em diversos materiais (bronze, ouro e prata):

Figura 2 – Medalha de bronze retratando João VII Paleólogo (anverso e reverso).
Fonte: Italian Renaissance Medals


     Mas é na França que surge o primeiro exemplo intencional de uma medalha comemorativa, como Coimbra diz:


        “A medalha, tal como a tinha concebido a Itália no século XV e      como Vittorio Pisano a tinha criado, era essencialmente       iconográfica. Era um retrato confiado a uma matéria       imorredoura para passa à posteridade. Tudo aí estava       subordinado à efígie e o tipo de reverso era apenas a divisa da      personagem representada ou uma alegoria laudatória à mesma.      Não se cuidava absolutamente de fazer disso a comemoração      de um acontecimento ou de determinado fato. É a França que      nos dá o primeiro exemplo de uma medalha comemorativa.”      (COIMBRA, 1961b, p.543).


     Em 1550 o rei Henrique II, da França, enviou funcionários da Casa da Moeda de Paris para a Alemanha, a fim de adquirir maquinário para a cunhagem de medalhas, com objetivo propagandístico, sob a supervição de Étienne Delaune e de Claude de Héry7. Em 1572, Germain Pilon (1535 – 1590) é nomeado pelo rei Carlos IX, da França, para o novo cargo de “controlador geral de efígies8”. Anos mais tarde, Pilon produz uma série de retratos, em placas fundidas, de membros da dinastia Valois e uma série de medalhas para o rei Henrique III (Figura 3). Nasce aí a medalha, criada com um objetivo específico, de comemoração ou de memória de determinado indivíduo ou feito.


Figura 3 – Medalha laudatória do rei Henrique III, 1596 (anverso).
Fonte: VCoins



1 - “Frente” da peça. Na moeda é popularmente conhecido como “cara”, e contém as representações do Estado, bustos de personalidades, brasões, alegorias e o nome do país, por exemplo.

2 - “Costas” da peça. Na moeda é popularmente conhecida como “coroa”. Nela está o valor facial e as datas.

3 - "É a espessura [...]; pode ser liso ou coberto de pequenos sulcos paralelos". (COIMBRA, 1957, p. 521).

4 - “É a parte que fica circundada pela legenda e onde está inscrito o tipo ou ainda o espaço vazio, liso, a que se poderia chamar fundo, entre o tipo e a legenda.” (COIMBRA, 1957, p. 523).

5 - “[...] (pronuncia-se egzérgo), é o espaço junto a orla que fica por baixo do tipo da moeda, no anverso ou reverso e onde geralmente se encontra a data. Às vezes êsse espaço é separado por um traço. (COIMBRA, 1957, p. 526).

6 - “É a extremidade da moeda junta ao bordo, o que por vêzes é assinalado por um círculo liso ou uma cercadura pontuada.” (COIMBRA, 1957, p. 534).

7 - Dois mestres ourives.

8 - Representação da figura de um indivíduo, real ou fictício.



Para citar esse texto:

SABALA, Ariel Mattoso. Moeda ou Medalha?. Movimento Numismático, Rio de Janeiro - Manaus, Anno.1 - Edição 01, p.59-63, 2023.


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